Por Por Laurent Banguet | AFP

Os astrônomos não podiam analisar a atmosfera de um exoplaneta, ou mesmo deduzir com precisão a sua massa, a menos que este exoplaneta passasse entre a estrela e a Terra, como ocorreu recentemente com o "trânsito de Vênus" na frente do Sol. Foi o caso de Tau Boötis b, um planeta descoberto em 1996 na constelação de Bouvier, que está tão perto de nós (51 anos-luz) que a sua estrela é visível a olho nu. Uma equipe internacional liderada por Matteo Brogi, do Observatório de Leyde (Holanda), teve a ideia de utilizar o chamado "Very Large Telescope" (VLT, "Telescópio Muito Grande") do Observatório Austral Europeu (ESO), no Chile para distinguir as duas fontes de luz.
Com a ajuda do sistema CRICES do VTL (um espectrômetro que opera com luz infravermelha) e um engenhoso método que utiliza a velocidade de rotação do planeta em torno de sua estrela, os astrônomos foram capazes de reduzir significativamente o brilho da estrela para concentrar-se no brilho emitido por Tau Boötis b. "Graças à alta qualidade de observação proporcionada pelo VLT e pelo CRICES, conseguimos estudar o espectro do sistema com muito mais precisão. Antes, apenas 0,01% da luz que víamos era do planeta, o resto era da estrela e, portanto, não era fácil", resume Brogi em um comunicado do ESO.
Ao captar diretamente a luz do exoplaneta, os astrônomos puderam calcular de forma precisa seu ângulo de rotação ao redor da estrela (44 graus) e deduzir sua massa (seis vezes a do planeta Júpiter, situado em nosso sistema solar). A equipe pôde analisar ao mesmo tempo a atmosfera de Tau Boötis b, sua porcentagem de monóxido de carbono, assim como a temperatura em diferentes altitudes. "Esta nova técnica significa que podemos agora estudar a atmosfera dos exoplanetas que não estão em trânsito diante de nossa estrela, e medir sua massa, o que era impossível antes. É um grande passo", afirmou Ignas Snellen, da Universidade de Leyde.
O estudo, publicado nesta quarta-feira na revista britânica Nature, "mostra o enorme potencial dos telescópios terrestres", como o E-ELT (European Extremely Large Telescope), que a ESO prevê inaugurar em 2020. "Talvez algum dia encontremos desta maneira provas de atividade biológica em planetas semelhantes à Terra", concluiu Snellen.
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